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Cada dia é um a menos - um texto sobre despedidas necessárias

"Se você for corajoso o suficiente para dizer adeus,
a vida lhe recompensará com um novo olá."
Paulo Coelho


Cada dia que passa, sinto que é um a menos. A triste hora da despedida está breve. 
E quando for inevitável, não te darei adeus. Um tchau será menos doloroso. Nele há uma pequena esperança enrustida de que ainda nos esbarraremos em alguma esquina da vida.
Já faz um tempo que venho observando a evolução desse sentimento. Em mim, pude avaliar a situação internamente e gostaria de ter sido capaz de fazer o mesmo com você, mas eram tantos muros a escalar que, confesso, fiquei exausta.
Nunca fui de jogos e mistérios, por mais atraentes que tais coisas possam parecer para os outros. 
Sou a favor da franqueza, mesmo que algumas verdades me deem um nó na garganta e façam meu corpo todo estremecer, transformando-me toda em uma dor latejante. Incessante. Insuportável.
Contrariamente, com você as palavras ficam engasgadas, e quando decido que olharei nos seus olhos e me libertarei, não emito um som sequer.
Sei que isso é meu corpo não querendo se despedir. Nem minha mente. Nem meu coração.
Mas quem foi que disse que as coisas sempre são do jeito que queremos?
Lembro de quando o frio na barriga começou, um dos meus indícios preferidos de que algo especial está acontecendo comigo. Lamentei quando se foi.
Às vezes, assisto nosso "curta-metragem", procurando, em vão, alguma cena que indique onde nosso fim começou. Talvez eu tenha deixado passar algo. 
Eu só sei que queria ter te dito tanta coisa, mas acho que perdi o timing. E nisso, me perdi. E te perdi.
E eu queria ter te abraçado muito mais. Te beijado muito mais. Ter me mostrado muito mais. E ter te descoberto muito mais.
Queria que fossemos "nós" por muito tempo mais.
Hoje, não tenho me reconhecido mais. Isto porque você me desnorteia. Desorienta. 
E o efeito colateral foi que comecei a sentir uma falta imensa de ser eu. Não para os outros, mas para você.
E na impossibilidade de viver à margem de quem, um dia, fui,  é que preciso me despedir enquanto ainda tenho chances de fazer um autorresgate. Da minha vida. Da minha essência. Do meu eu mais profundo. Aquele que eu gostaria que você tivesse tido o prazer de conhecer.

By Milena Pelinson

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