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Quando aprendi a ficar só

"Nascemos sós. Morremos sós. Nosso pensamento é nosso, não é compartilhado. E quando você acorda, a primeira impressão é sempre sua, seu olhar, seu pensamento." - Arnaldo Jabor

Sempre gostei de estar rodeada de gente. No auge da juventude, de MUITA gente. Atualmente, só daqueles que me cativaram e conquistaram um lugar singelo, mas especial em meu coração.
É delicioso estar na companhia de quem é parecido conosco, de quem tem o dom de despertar nossos melhores sentimentos e nos arrancar os sorrisos mais largos.
Porém, mais delicioso é quando  adoramos estar em nossa companhia.
Admito ter me boicotado no passado, evitando, durante muito tempo, ficar sozinha em um canto. Em um quarto. Em uma praia. Só eu e meus pensamentos. Tal ideia invocava, automaticamente, uma tristeza associada à sensação de não ser amada, querida.
Diz o dicionário que solidão é condição, estado de quem está só; isolamento. 2. Lugar ermo, retiro. 
É isso mesmo. O que não significa que tais colocações, aparentemente melancólicas, signifiquem, necessariamente, algo ruim. 
Em meio a um turbilhão de gente, de barulho, de opiniões, é importante que encontremos um tempo para ficar a sós com nossas próprias ideias e para que tenhamos consciência de quem somos. O que queremos. Para onde vamos.
Quando aprendi a ficar bem em minha própria companhia, passei a enxergar a mim e o mundo com um olhar minucioso. Atencioso. Cauteloso.
Quando aprendi a ficar bem só, percebi que minha companhia é minha melhor amiga e, então, passei a cuidar de mim.
Afinal, o mais sensato é, já que somos obrigados a nos suportar durante a vida toda, que gostemos dessa companhia, que tenhamos afinidades, firmemos laços,  coisa que só é possível por meio do autoconhecimento que, consequentemente, é obtido através dos momentos de introspecção. 
Meu desejo hoje, então, é que entendamos que ficar só é essencial para fazermos uma autoavaliação crítica e decidirmos se gostamos ou não daquilo que nos tornamos em tempo de mudar o percurso. Que não cometamos o erro de arrastar relacionamentos afetivos de qualquer tipo apenas para ter com quem compartilhar algo. Que sintamos prazer em desfrutar uma boa leitura ou filme em um sábado à noite no sofá da sala. Que sejamos nossos melhores amigos.
E que sintamos prazer em estar em nossa própria companhia, porque quem fica bem sozinho, honestamente, não poderia estar melhor acompanhado.

By Milena Pelinson

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